quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Mártires

Em memória dos mártires
Desta terra ensanguentada,
Que do Rio Grande à Terra do Fogo
Morreram e lutaram pelos oprimidos,
Me calo...

Espero ouvir o canto do condor andino.
E não mais os gritos e tiros
Que os policiais dão como advertência
Antes de nos atacarem,
Antes de tomar-nos por animais.

Espero ouvir a flauta do Azteca
O picullu Inca e os tambores Maias.
E não mais essas notícias
Desvirtuadas, e mascaradas.
Implorando por ingênuos
Que nelas acreditem e se percam...

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

16 de outubro


Gritam as estátuas
E chora o chafariz.
Por quê?
Talvez a violência...
Talvez o descaso...


Seres humanos,
Seres de protestação.
Xadrez de convicções.
N'um tabuleiro santo.
Com benção do Papa.

Podemos bater a vontade.
São seres humanos?
São miseráveis?
São indíos?
São santos?

Não sei se estátuas e chafarizes choram...
Seria por causa do gás lacrimogênio?

Ou por serem as únicas, em meio a essa guerra,
Que apesar do bronze tem corações que amam?

Tristes testemunhas inertes de nossas falhas.

sábado, 11 de outubro de 2008

Um dia...

Um dia ele irá perceber...

que a vida é feita de pequenas coisas
que o tempo é o pior inimigo
que o pior choro é o contido
que o que vai nem sempre volta
que estar junto não é não estar sozinho
que alegria não é felicidade
que a distância é o pior castigo
e que saudade no fundo é dor



então um dia ele irá entender
porque ela foi embora.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Escuridão

A escuridão do mundo demonstrava a hora tardia da madrugada.

Aquele quarto, que antes fora cheio de sons e ensolarado, e agora era silencioso e iluminado por uma fraca luz de uma luminária em cima de uma Escrivaninha amarrotada de papéis.

O jovem que ali se fazia presente rabiscava em cima de uma folha algumas palavras nostálgicas, enquanto algumas lagrimas, contidas nos últimos dias, começavam a rolar pelo rosto esquálido e branco.

O relógio na parede marcava os compassos do silencio, que era quebrado vez ou outra por um latido distante, ou até mesmo o barulho de um carro numa rua próxima.

A caneta agora chegava na metade da folha, feroz e rápida, tal qual seu coração.

TIC. TAC. O relógio comandava, alheio a esse desespero, o ritmo calmo desta noite, como em todos os momentos da vida. Vida esta que era em parte retratada naquele texto. Um grito ensandecido de uma mente embriagada de emoções tóxicas, as palavras jorravam, sem parar daquelas mãos tão brancas quanto a própria folha debaixo delas.

A página chegara ao seu final. O rapaz então se levantou e apanhou um objeto qualquer sobre a mesinha de cabeceira. Sentou-se novamente na cadeira que estava e apagou a luz da velha lamparina. Ficou ali algum tempo, inerte, flutuando naquele breu.

O som do relógio parecia mais alto. Já não havia mais o som de vira-latas ou do motorista bêbado que voltava para casa. O relógio dominava aquele momento, e tudo ao redor. Eis então que um único som, seco e muito alto, pôs fim a esse domínio temporal.

O carmim do sangue misturou-se ao negro da noite. A pistola que antes estava sobre o criado-mudo, jazia ao lado daquela mão alva jogada ao chão.

A carta sobre a mesa desfiava a triste historia de uma desilusão. Os atos impensados daquela que um dia o escritor desta carta chamara de sua, tornou o coração do jovem tão negro quanto a noite que batia à janela.

Porém, a serenidade do rosto do rapaz não demonstrava outra coisa senão serenidade. O relógio já não batia. Para ele, o tempo já não existia mais.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Túnel




Meus olhos estranharam... Mas finalmente viram uma linda luz
Que no fim do túnel reluzia como ouro
Depois da jornada incessável,
parei, sentei e dormi.
Sonhei com estrelas e vagalumes
Senti o cheiro da comida da Maria
Vi os pássaros cantarolando e voando pelo ar
As costas encostadas no chão de barro vermelho
Os pés calejados de tanto andar descalço
Tantos versos de amor feitos e esquecidos em minha mente
Mas a lembrança que me mantera vivo todo esse tempo
Foi a única que eu não vivi:
Teu beijo, tua mão entrelaçada na minha
Teu cabelo contra o vento
E o sorriso que eu tanto desejei ter em meus lábios.
Me senti feliz como nunca
Mas não acordei.

Bianca Araújo Grassi 05/10/08

domingo, 5 de outubro de 2008

Sem título


Agora já foi.
Sou nau à deriva.
Impotente esperando a tempestade
Que virá...

Como saber o que se passa
Realmente nos teus sonhos.
Insisto na mesma fórmula:
Suores, nervosismo e dúvida.
Teimosa acompanhante de todos os loucos,
Inconfidentes e lunáticos.
Amantes em um deserto de ódio e consumo.
Não somos livres como as metáforas.
Elas sim, voam, e encantam os mais céticos.

Meus sentimentos desfilam ao conversar contigo.
Eu não posso olhar-te nos olhos.
Um disparo, um beijo, uma vida, um medo.

Apressados, todos esquecemos a Beleza.
Maravilhados com o supérfluo esquecemos o essencial.
Omitimos o melhor de nós mesmos, guardamos pra quem não virá.
Realmente, somos seres inacabados...

Esperamos o retoque teológico.
Procurando uma resposta metafísica.
Sem, no entanto, notar que só existe
O amor que nos escapa, e que ao mesmo tempo nos completa...

sábado, 4 de outubro de 2008

Revoar das metáforas

Meu dia se enche de luz
Mesmo quando desponta o sol.
Quando o amanhecer de tuas risadas
Bate às janelas de meu ouvido.

Desperto para a vida!
Acordo do estado de letargia
No qual escavo e interpreto minhas desilusões.

Navego em teu olhar
Até descobrir terras maravilhosas,
Povoadas de desejos, sorrisos e medos.

Não é preciso ser poeta, apaixonado
Ou mesmo amante das letras
Para entender o revoar das metáforas
Escritas por um tímido filósofo...

(Mateus Pereira)

Sépia

Os pés dela a guiavam, sem que ela tivesse algum controle sobre eles. Ela sabia aonde seria levada, mesmo relutante, deixava-se guiar. Sua respiração ficava mais arrastada e seu coração batia mais forte, até que sem perceber estava correndo. Até chegar naquela velha árvore que um dia tinha significado tanto para ela, aquela que tinha sido seu esconderijo, esconderijo do mundo que a tanto machucava. Ali era o único lugar que havia paz.

Mas isso se foi. Agora só restava a velha árvore, em seu tronco talhado duas inicias, e a linda paisagem que um dia era de uma inspiração, agora era vazia e melancólica. O santuário que para ela fora um dia nunca retornaria, e tudo que restara eram lembranças e uma antiga foto, que ela sempre a guardara próximo a seu coração. Perdida olhando tão fixamente para aquela foto, não percebeu que lágrimas corriam e que desejava mais do que tudo na vida era estar dentro daquela foto. Era viver um mundo sépia e ali ser eternizada, ao lado de quem tanto lhe trazia conforto.

Antes de tudo aquilo acontecer, ela tinha tanta certeza de que nada podia destruir seu mundo e nunca imaginou que precisaria estar preparada para perder a mão que segurou fortemente. Queria gritar, mas sabia que ele nunca a ouviria. Os dias que nunca foram concedidos a aqueles dois seres, que mais do que todos mereciam, para ela se tornavam vazios. Os estilhaços de suas memórias estavam sendo arrancados e a voz que tanto era familiar para ela estava desaparecendo, e ele não estava mais lá. Sabia disso...Por isso o mundo de sépia era tão sedutor...

Daniel Avila