terça-feira, 17 de junho de 2008

O Último Ato

O relógio marcava as horas daquele dia sem fim. Os olhos observavam as espirais formadas pela fumaça do cigarro. Lia no jornal as entrelinhas dos classificados. Afogava-se em um copo de cerveja tentando esquecer os problemas. A mulher o abandonara meses antes, sem deixar nenhum bilhete. A vida não lhe era agradável, muito menos justa. Era o seu pior inimigo e sua única companhia.

Buscava uma saída naquele labirinto angustiante. Dinheiro não lhe restara, muito menos disposição. Nada mais lhe satisfazia e viver era um verbo cortado de seu dicionário. O tempo passava e covardemente tomava os suspiros daquele pobre homem abandonado.

Saltou da janela, em busca de um vôo desesperado. Por um momento desejou voar. Suas asas imaginárias não o sustentaram, como Ícaro ao encontro do Sol. Desabou na calçada com um olhar suplicando por misericórdia. O vermelho vivo de seu sangue contrastava com sua aparência pálida. Assim deixou a vida, que já o deixara há muito tempo..


Marina Baptistella

4 comentários:

Henry Cheshire Frank disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Henry Cheshire Frank disse...

Já disse e vou dizer de novo, ficou muito foda esse conto.

Adorei a parte do "Desabou na calçada com um olhar suplicando por misericórdia." e do "Suas asas imaginárias não o sustentaram, como Ícaro ao encontro do Sol." (ótima comparação =B).

Espero ver mais contos teus em breve ^^

;*****

Ass: Hobbit =D

Anônimo disse...

hm... ótimo! o último ato, tão rápido quanto o próprio texto de bolso!

interessante o fato dele beber a cerveja! ;D

ass: Hugo

Bianca Grassi disse...

sem dúvida alguma poético!

to me surpreendendo por aqui com tanto talento, jisuis!

;D